Educação Ambiental – princípios e práticas 9a. edição

23. Educação Ambiental – princípios e práticas       2010, 9ª.ed., 551 p., livro

TEXTO DA ORELHA DA CONTRA-CAPA

Estamos produzindo um mundo que nenhum de nós deseja. A par dos grandes avanços científicos e tecnológicos, a espécie humana, experimenta, um grande desafio à sua sustentabilidade:  a perda do equilíbrio ambiental, companhada de erosão cultural, injustiça social e econômica e violência, como corolário da sua falta de percepção, do seu empobrecimento ético e espiritual, também, fruto de um tipo de Educação que “treina” as pessoas, para serem consumidores úteis, egocêntricos e, ignorar as conseqüências ecológicas dos seus atos.

A Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), reconhece essa situação.  Em resposta, representantes de 170 países, formularam a Agenda 21, um Plano de Ação para o Século XXI, com o objetivo de promover o Desenvolvimento Sustentável, a estratégia mais viável para enfrentar esse desafio. Reconhece também que o desafio fundamental para a construção de uma sociedade sustentável é a Educação.

A Educação Ambiental foi identificada, como o elemento crítico para a promoção desse novo modelo de desenvolvimento.

Tendo as suas bases conceituais conhecidas desde a Conferência de Tbilisi (1977), a Educação Ambiental, dada a sua natureza interdisciplinar, polifacetada e holística, reúne os elementos necessários, para contribuir decisivamente, com a  promoção das mudanças de rota que a humanidade carece.

Esse livro, um clássico de referência, na literatura ambientalista brasileira, reúne um conjunto de informações fundamentais para a promoção do processo de Educação Ambiental

Nessa nova edição, revista e ampliada, traz, de forma comentada, os textos básicos das grandes conferências internacionais sobre Educação Ambiental, promovidas pela UNESCO e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, em Belgrado (1975), Tbilisi (1977), Moscou (1987) e Tessalônica (1997).

Inclui as conferências brasileiras e documentos nacionais decisivos para o desenvolvimento do processo da EA, no país (histórico, cartas, declarações e outros).

Oferece mais de 100 sugestões de práticas de EA e apresenta diversos elementos para subsidiar ações (suporte metodológico, legislação ambiental, vasta referência bibliográfica, nacional e internacional). Traz estudos de caso, acoplados a outros elementos para a compreensão das     questões ambientais (cronografia, análise socioecossistêmica e artigos sobre as alterações ambientais globais, a pegada ecológica, a co-gestão e a sustentabilidade).

Dada a sua  riqueza de informações, trata-se de uma obra, para consultas freqüentes, por todas as pessoas que, de alguma forma, estão envolvidas com a temática ambiental e mais proximamente, com o processo de Educação Ambiental.

                   Índice

Apresentação

  1. Elementos da história da EA

1.1.        Cronografia

1.2.        Introdução

1.3.        Histórico da EA

1.4.        Política, EA e globalização

1.5.        Análise sistêmica do contexto socioambiental

1.6.        Evolução dos conceitos de EA

  1. Os grandes eventos sobre EA

2.1. A Conferência de Belgrado

2.2. A Primeira Conferência Intergovernamental sobre EA (Tbilisi, 1977)

2.2.1. Declaração da Conferência de Tbilisi

2.2.2. Recomendações da Conferência de Tbilisi

2.2.3. Finalidades da EA

2.2.4. Categorias de objetivos

2.2.5. Princípios básicos

2.2.6. Estratégias de desenvolvimento da EA

2.3. Seminário sobre EA (San Jose, 1979)

2.4. O Congresso Internacional em  EA e FA (Moscou, 1987)

2.4.1. Observações importantes do Congresso de Moscou

2.4.2.     Estratégia internacional para ações no campo da EA e FA

2.4.3.     Princípios e características da EA e FA

2.4.4.     Orientações, objetivos e ações para a estratégia internacional em EA e FA

2.5.         Seminário Latino-Americano de EA (Argentina, 1988)

2.6.         Os Encontros Brasileiros de EA

2.6.1.    Encontro Nacional de Políticas e Metodologias para a EA

(MEC/SEMAM, 1991)

2.6.2.    Encontro Técnico de EA da Região Norte

2.6.3.    Encontro Técnico de EA da Região Nordeste

2.6.4.    Encontro Técnico de EA da Região Centro-Oeste

2.6.5.    Encontro Técnico de EA da Região Sudeste

2.6.6.    Encontro Técnico de EA da Região Sul

2.6.7.    A Rio-92 e a EA

2.6.8.    I Encontro Nacional dos Centros de EA

2.6.9.    A 1a. Conferência Nacional de EA (CNEA, Brasília, 1997)

Declaração de Brasília para a Educação Ambiental

2.6.9.1.        EA e as vertentes do desenvolvimento sustentável

2.6.9.2.        EA formal: papel e desafios

2.6.9.3.        EA no processo de gestão ambiental

2.6.9.4.        A EA e as políticas públicas

2.6.9.5.        EA, ética e formação da cidadania: educação, comunicação e informação da sociedade.

2.7.        Uma estratégia para o futuro da vida (UICN, WWF, PNUMA, 1991)

2.8.        O Tratado de EA para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (1992)

2.9.        A Conferência de Tessalônica (Grécia, 1998)

  1. 3.            A Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9765/99)
  1. 4.            Subsídios para a prática da EA

4.1. Da Conferência de Tbilisi

4.2. Operacionalização das atividades de EA

4.3.        Dos conceitos a serem utilizados em EA urbana

4.3.1.    Sistemas de vida

4.3.2.    Ciclos

4.3.3.    Sistemas complexos

4.3.4.    Crescimento populacional e capacidade de suporte

4.3.5.    Desenvolvimento ambientalmente sustentável

4.3.6.    Desenvolvimento socialmente sustentável

4.3.7.    Conhecendo a incerteza

4.3.8.    Características dos socioecossistemas urbanos

4.3.9.    A análise da Pegada Ecológica

4.3.9.1.        Os socioecossistemas urbanos como exemplo

4.3.9.2.        A Pegada Ecológica de Taguatinga, DF – um estudo de caso

  1. 5.        Um grande desafio: dimensões humanas das alterações ambientais globais.

5.1. Introdução

5.2. Mudanças na cobertura do solo

5.2.1. Terras cultivadas

5.2.2.     Cobertura vegetal

5.2.3.     Campos e pastagens

5.2.4.     Áreas úmidas

5.2.5.     Ecossistemas urbanos (assentamentos)

5.3. Conseqüências ambientais das mudanças na superfície da Terra

5.3.1.    Emissão de gases

5.3.2.    Mudanças hidrológicas

5.3.3.    Mudanças climáticas

5.4.        Forças humanas indutoras de mudanças ambientais

5.4.1.    População

5.5. Considerações finais

  1. 6.        As atividades de EA urbana

6.1. Descobrindo a natureza na cidade

6.1.1. A fauna urbana

6.1.2. A flora urbana

6.1.3.     Fatores abióticos – fenômenos naturais na cidade

6.2. Conhecendo o metabolismo da cidade

6.2.1.  Prédios versus casas – um dilema

6.2.2.   Ambiente urbano versus ambiente rural

6.2.3.     Serviços essenciais da cidade

6.2.4.     A palavra do profissional

6.2.5.     O supermercado e os materiais recicláveis

6.2.6.     A frota de veículos e os custos

6.2.7.     O preço da caloria

6.2.8.     A maquete da escola ou do bairro

6.2.9.     A população urbana

6.2.10.  O lixo gerado na escola

6.2.11.  O consumo de energia elétrica

6.2.12.  Os palitos de fósforo

6.2.13.  A energia solar

6.3.         Pesquisando a qualidade ambiental na cidade

6.3.1.    Visitando as farmácias

6.3.2.    A poeira em suspensão na cidade

6.3.3.    O cigarro como fator de degradação socioambiental

6.3.4.    Os carros e a poluição do ar

6.3.5.    Os tipos e os impactos dos transportes

6.3.6.    A construção de uma estrada

6.3.7.    Os ruídos na cidade

6.3.8.    A água que bebemos

6.3.9.    Examinando águas poluídas

6.3.10.  Investigando a poluição industrial

6.3.11.  Usos inadequados do ambiente urbano

6.3.12.  Indicadores naturais de qualidade ambiental

6.3.13.  Como você gasta o seu tempo

6.4.        Buscando a melhoria da qualidade ambiental das cidades

6.4.1.    Conhecendo um EIA/RIMA

6.4.2.    A contribuição individual

6.5.        Sugestões adicionais de atividades de EA

7.   Estudos de Caso – Elementos para a compreensão das dinâmicas da EA

7.1. EA, Co-Gestão e Sustentabilidade no Parque Nacional de Brasília – PNB

7.1.1. Metodologia

7.1.1.1.        O marco conceitual

7.1.1.2.        O plano operacional

7.1.2.          Resultados

7.1.2.1.        Capacitação de professoras(es) e monitoras(es)

7.1.2.2.        Criação do Corpo de Voluntários do PNB

7.1.2.3.        Os eventos especiais

7.1.2.4.        Avaliações inobtrusivas

7.1.2.5.        EA para o entorno: interações

7.1.3.          O PEA em 2000

7.1.4.          Considerações finais

7.2.              O Programa de Educação Ambiental da Universidade Católica de Brasília – PEA-UCB

7.2.1.          O que é o PEA–UCB

7.2.2.          Justificativa para a execução

7.2.3.          Como está sendo executado

7.2.4.          Organograma

Anexos 

Subsídios ás Ações em Educação Ambiental

  1. Declaração Univerasal dos Direitos Humanos (ONU, 1948)
  2. Declaração da ONU sobre o Meio Ambiente Humano (Estocolmo, 1972)
  3. Carta do Rio sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente (Rio-92)
  4. Alerta dos Cientistas do Mundo à Sociedade (Rio-92)
  5. Legislação Ambiental: Instrumento de Participação Comunitária

5.1.            A Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6938/81)

5.2.            Resoluções do CONAMA (seleção de artigos)

5.3.            A Constituição Brasileira de 1988

5.4.            Outros itens importantes da legislação brasileira

5.5.            Outros instrumentos legais específicos de ação popular

5.6.            Coletânea de Leis. Decretos, Portarias e Resoluções

5.7.            Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9605/98 e Decreto 3179/99)

5.8.            Como criar uma Associação

  1. Documentos brasileiros importantes sobre EA

6.1.            O Parecer 226/87 do Conselho Federal de Educação (MEC) sobre EA

6.2.            A Carta de Curitiba (1978)

6.3.            Carta Brasileira para EA (MEC, Rio-92)

6.4.            O Compromisso de Curitiba para o Desenvolvimento Sustentável

  1. Publicações técnicas sobre EA

7.1.            Referências brasileiras

7.2.            Referências do exterior

  1. Sites com informações sobre EA
  2. A Carta do Chefe Indígena Seattle (1854)
  3. A Declaração de Caracas sobre a Gestão Ambiental para a América Latina (1988)
  4. Elementos para discussões

11.1.        O que foi a Rio – 92?

11.2.        O que é Agenda-21?

11.3.        O que é EA e como se pratica ?

11.4.        Sintomas do desequilíbrio ambiental

11.5.        Escalada humana e crise ambiental

11.6.        Conseqüências da redução da camada de ozônio

11.7.        Conseqüências do desflorestamento

11.8.        Quanto temos de água no mundo?

11.9.        Proteja a a pureza da água e use-a racionalmente

11.10.    Efeito estufa e inversão de valores

11.11.    Por que precisamos economizar energia elétrica?

11.12.    Crescimento populacional e padrões de consumo

11.13.    Por que reciclar?

11.14.    A cidade precisa ser reinventada

11.15.    O que eu posso fazer?

12. Referências bibliográficas

                   Apresentação (original)

“O Brasil não tem uma política educacional definida, muito menos uma política para a chamada Educação Ambiental”…   Essa era a frase que iniciava a apresentação desse livro, em suas edições iniciais.  Uma década depois, muito mudou.  Temos a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9765), inúmeros projetos e programas de EA em desenvolvimento e, uma rica listagem de literatura especializada.  O Brasil melhorou os seus índices, de uma forma geral.  Maior espectativa de vida, menor taxa de mortalidade infantil, mais alfabetização e mais espaço conquistado pela mulher. A internet ampliou a porosidade das relações humanas, em níveis impensáveis, as ONGs efetivaram os seus papéis na sociedade, como nova clivagem de poder e as empresas incorporaram a dimensão ambiental nos seus processos (certificações, gestão ambiental, ecoeficiência).

Mas, a par dessas manifestações de conquistas, a sociedade humana, empurrada por padrões de consumo insustentáveis, impostos por modelos de desenvolvimento insanos, completado por um mórbido e renitente crescimento populacional, tornou-se mais injusta,desigual e insensível.  Agora, experimenta um profundo colapso de ética e de valores humanísticos, verificáveis em suas atitudes diárias, permitindo o crescimento da corrupção, a corrosão da democracia e o alargamento do fôsso entre ricos e pobres.

Afugentou-se a gente do campo e as cidades se tornaram superpovoadas, imersas em problemas crônicos de saneamento e serviços, abrigando hordas de desempregados, subnutridos, doentes e analfabetos, em favelas, regadas a drogas, prostituição e violência

Acrescentando-se a isso, as alterações ambientais globais, induzidas por dimensões humanas, agravaram a crise ambiental, produzindo mudanças indesejáveis (alterações climáticas, destruição de habitats, desflorestamento, perda de solo, extinção de espécies e de diversidade de ecossistemas, poluições, escassez de água potável, erosão cultural e outras).

O quadro se completa, com a disseminação e retorno de doenças (AIDS. cólera, malária urbana, tuberculose, dengue) e manifestação de novas doenças (hantavírus e outros).  Produzimos um mundo que nenhum de nós deseja.  Aumentamos nossa produtividade agrícola, há alimentos sobrando no mundo, apodrecendo em armazéns, enquanto 40 milhões de pessoas morrem de fome, por ano.

Em nenhum período conhecido da história humana, ela precisou tanto, de mudança de paradigma, de uma Educação renovadora, libertadora.  Mais do que produzir painéis solares mais baratos, reciclar e dotar os carros de células de combustível, em vez de petróleo, precisamos de um processo mais completo, que promova o desenvolvimento de uma compreensão mais realista do mundo.  No século XX, o ser humano involuiu, eticamente e espiritualmente.

O papel da Educação Ambiental, nesse contexto, torna-se mais urgente.  Precisamos oferecer mais formação.  A educação ainda “treina” a(o) estudante para ignorar as conseqüências ecológicas dos seus atos.

Ao falecer, em 1933, o botânico escocês Patrick Geddes – considerado o Pai da EA -, não imaginava quanto tempo ainda iria demorar para que a educação incorporasse uma análise da realidade socioambiental.  Já pelo final do século IXX, ele não concordava com os caminhos que a escola trilhava, tolhendo o educando do seu mundo natural e colocando-o num mundo de conhecimentos fragmentados e desconectados da sua realidade.

Desde então, a educação continuou sua caminhada  evolucionária, demasiadamente lenta, sem a agilidade necessária de se adaptar aos novos desafios.

Um sinal de que isto poderia modificar-se foi dado em 1977, quando a Conferência de Tbilisi sinalizou para o mundo os caminhos para a incorporação da dimensão ambiental, em todas as formas de educação.  Definiram-se conceitos, objetivos, características, princípios e uma seqüência de recomendações de estratégias para o seu desenvolvimento.  Devidamente embevecidos pela comoção mundial, causada pela crescente crise ambiental, os representantes das 170 Nações presentes assumiram o compromisso de torná-la efetiva.

Após dez anos de Tbilisi, a Conferência de Moscou revelava a insipiência dos esforços em nível internacional.   Com o agravamento das alterações ambientais, no início da década de 90, esperava-se que as recomendações expressas na Agenda-21, geradas na Rio-92, finalmente significassem uma mudança de atitude em relação à Educação Ambiental.  Cinco anos depois, durante a Rio + 5, representantes de 83 países relataram que apenas 10% dos recursos prometidos haviam, efetivamente, sido liberados. Em 1998, a Conferência de Thessaloniki admitiu a insuficiência dos resultados obtidos.

Agora, no início de uma nova década, encontramos o processo de Educação Ambiental, em nível internacional, ainda tímido.  Poucos países conseguiram estabelecer o processo preconizado e acordado nos encontros internacionais.

É óbvio que houve conquistas, mas estas estão sendo insuficientes para provocar as mudanças de rumo que a velocidade de degradação ambiental requer.  A velocidade com a qual se devasta e se desequilibra os sistemas que asseguram a sustentabilidade humana, na Terra, continua infinitamente superior à nossa capacidade de gerar respostas adaptativas culturais, principalmente em nível educacional. A Educação Ambiental ainda não representa uma força suficiente para interferir na inércia daquele movimento e modificar  a sua trajetória de desestabilização.

Ainda impera uma instigante indefinição política, provocada por ignorância ambiental (aquele “Analfabetismo Ambiental” referido na Conferência sobre Educação para Todos, Tailândia, 1992).  Afinal, não se compreende de outra forma a indiferença de muitos setores à causa ambiental, à necessidade de mudanças na relação humanos-ambiente.

O caso do Brasil é sintomático.  Os documentos contendo as orientações estruturais para o seu desenvolvimento foram gerados há mais de uma década.  Durante trinta anos ouvimos dizer que a Educação seria prioridade.  O que encontramos pelo Brasil afora configura uma realidade bem diferente e termina definindo o quanto somos atrapalhados, nessa área.

Louvem-se os esforços do MEC, com recursos limitados, promovendo conquistas significativas como os Parâmetros Curriculares Nacionais, a promoção de encontros técnicos, qualificação e outras iniciativas; louvem-se os esforços do Ministério do Meio Ambiente e do IBAMA, promovendo conferências e configurando políticas; louvem-se os esforços conjuntos MEC-MMA-IBAMA.  Com os recursos disponíveis, fazem o que podem e muitas vezes, o que não poderiam (e conseguem, com esforços de pessoas dedicadas, obstinadas e idealizadoras).  Mas, não se pode louvar a omissão da mídia nacional, demasiadamente preocupada em noticiar catástrofes ambientais, reduzindo a uns tantos que, no seu cotidiano, exercem o papel formador da comunicação social;  não se pode louvar a maior parte da classe política, lamentavelmente despreparada para exercer o cargo.

Outrossim, as Secretarias Estaduais de Educação, nas suas infinitas metamorfoses, sempre à deriva das oscilações políticas, não têm orientações duradouras.  Mudam os políticos, mudam os Secretários, mudam os Diretores, mudam as idéias, mudam os planos, os quatro anos acabam e tudo estava para começar.  Daí, um novo mandato e tudo se repete.   A situação é fractal.

Nas Secretarias Municipais de Educação, o empobrecimento ainda é maior.  Uma mescla de desqualificação profissional, desmotivação, salários cronicamente baixos e freqüentemente atrasados, instalações escolares precárias e prefeitos e vereadores corruptos formam uma mistura explosiva e colocam a Educação Ambiental fora de plano.

Por outro lado, o esforço de qualificação é mínimo.  Quando ocorre, freqüentemente qualifica alguns professores de cada escola.  Estes, quando retornam às suas unidades escolares, passam a ser encarados como “rebeldes”, indesejáveis, pela Coordenação e pela Direção.  Até mesmo o diálogo com os colegas se torna difícil.  A estratégia de qualificação de professores, desacompanhados dos seus demais colegas, inclusive da administração, tem-se mostrado ineficiente. Quando os alunos saem para atividades extraclasse (caminhadas interpretativas socioambientais, por exemplo), os pais reclamam (“lugar de estudante é na escola”), o porteiro reclama, a merendeira reclama, os Coordenadores e a Direção logo acham que a(o)  professora(or)  “está enrolando, não quer dar aula”.

Poucos estados possuem estrutura definida para oferecer qualificação aos seus professores (destacamos o Instituto Anísio Teixeira, Salvador, Bahia, que possui uma notável estrutura física para receber profissionais da rede estadual e vem desenvolvendo uma política coerente de qualificação).

Dada a situação precária que se oferece aos professores, surge mais um problema para o desenvolvimento de propostas de Educação Ambiental: a evasão de carreira.  A rotatividade é muito grande.  Perde-se em torno de 40% dos professores qualificados, a cada ano.  Isto constitui uma cruel magnificência do problema de quem precisa qualificar mais e mais, diante de recursos cada vez mais escassos.

A falta de recursos instrucionais, notadamente livros didáticos especializados, disponíveis, constitui-se em outro impecilho, aparentemente intransponível.  Muitas publicações que chegam aos professores continuam impregnadas de uma visão preservacionista exclusiva, ingênua e desatualizada cientificamente.  Ainda se confunde Ecologia com Educação Ambiental.  Com isto, os professores são estimulados a desenvolver atividades reducionistas com seus alunos ou, então, bater na tecla da poluição, do “desmatamento”, do efeito estufa, da camada de ozônio ou então catar latinhas de alumínio e reciclar papel artesanalmente. A ingenuidade ainda é muito grande.

Esta situação é especialmente nutrida pelas universidades brasileiras: apáticas, vaidosas, obsoletas e dessintonizadas com a realidade, continuam imersas em sua prática acadêmica utópica.  Os cursos de Administração, Jornalismo, Direito, Economia e Engenharia, entre outros, em sua maioria ainda não incorporaram devidamente as dimensões ambientais em seus currículos.  Continuam produzindo profissionais que refletem o seu despreparo e vão engrossar o rol dos devastadores.

Reconhece-se que, para a reversão dessa situação, são necessários esforços em muitas áreas, além da educacional.  Esta situação é fractal.  Transcende o Brasil e espalha-se pelas terras emersas da Terra.  Poucas sociedades estão se dando conta do que está acontecendo. Um mundo repleto de sociedades que consomem mais do que são capazes de produzir e mais do que o planeta pode sustentar é uma impossibilidade ecológica.

O desenvolvimento sustentável, baseado nos atuais padrões de uso dos recursos naturais e no crescimento populacional global vigente, não é nem mesmo concebível, teoricamente.  Isto exigiria uma suspensão voluntária da nossa incredulidade.

A sociedade humana, como está é insustentável.  Apesar dos inegáveis avanços tecnológicos pós-industriais, a humanidade inicia o século XXI lutando, não apenas por solo, mas também por água e ar, num ambiente hostil que remonta à era pré-industrialista.   Prevê-se a barbárie da violência urbana e rural imersa num contexto de conflitos e atos de terrorismo, gerados pela intolerância, principalmente  etno-religiosa (acrescente-se que o Brasil reúne uma mistura explosiva: a violência no campo contra o movimento sindical rural e a crescente migração para as cidades, resultados da estratégia suicida de manutenção, a qualquer custo, das oligarquias latifundiárias e da má distribuição de renda).

Há a premência de uma profunda transformação valorativa, o que exige uma reestruturação político-econômica global, baseada na democracia (ou talvez meritocracia), na eqüidade, dignidade e promoção humana e na sustentabilidade ecológica e socioeconômica da Terra, fundamentados no Estado de Direito

Essas mudanças não ocorrerão sem conflitos, porquanto representam uma forte ameaça à ordem mundial estabelecida, onde os modelos vigentes de “desenvolvimento”  tendem a perpetuar as relações opressor-oprimido, sob a égide da visão fragmentada, imediatista e utilitarista.

A eqüidade sócioeconômica é um elemento crítico para a sustentabilidade, assim como o materialismo e a crescente ignorância das pessoas, a abordagem tecnocêntrica, a retração econômica e o débito internacional.  Essa visão é em parte corroborada por diversos autores.  Na Declaração da Reunião dos Líderes Espirituais da Terra, produzida e divulgada na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), promovida pela ONU, cita-se que a crise ecológica é um sintoma da crise espiritual do ser humano, que vem da ignorância.

Na apresentação da obra Olhando pela Terra, de James George, o Dalai Lama afirma que a crise ambiental global é, de fato, a expressão de uma confusão interior.  A busca mesquinha de interesses egoístas causou os problemas globais que ameaçam a todos.  Adianta que a cura do mundo tem de começar num nível individual: “se não podemos modificar o nosso comportamento, como esperar que os outros o façam?”   Na verdade, se se multiplicam as escolhas e ações individuais sobre o ambiente por seis bilhões, pode-se começar a entender que, cada vez que se faz o que os outros estão fazendo, contribui-se  para o estado traumático e estressado do planeta, de forma cumulativamente perigosa.

Há, na verdade, uma necessidade premente de iluminação coletiva, aquela preconizada por Gurdjieff , que dizia estar o ser humano em um estádio letárgico, adormecido, vivendo, assim, a maior parte de suas vidas trancado no círculo da sua  falta de totalidade.

Foi nesse contexto que recebí o convite para preparar uma nova edição desse livro.  Fiquei imaginando, por que uma nova edição?  Afinal, já existem tantos livros de EA, no Brasil. O que atualizar? O que suprimir?  O que acrescentar?  Porém, imediatamente me vem à mente, a imagem dos rostos angustiados, mas ainda sorridentes e idealistas, de milhares de colegas professoras(es), ongueiros(as), ambientalistas, que encontrei nas centenas de palestras e cursos espalhados pelos recônditos do Brasil; do Amapá ao Rio Grande do Sul, recordo as suas carências, limitações e sonhos; recordo o seu esforço, dedicação e teimosia; a sua criatividade, resistência, determinação e crença em um mundo melhor.   Vi esse livro, em mãos de pessoas muito humildes e sobre mesas de poderosos; recebi centenas de cartas relatando a contribuição que ele prestou e, recordo que ao reunir os subsídios para prepará-lo, não imaginava, nem de longe, se conseguiria publicá-lo.  Logo, demovi a idéia de não fazê-lo.

Diante disso, e reconhecendo que um grande número de pessoas ainda não teve acesso às informações básicoas sobre EA, preocupei-me em manter, nessa nova edição, os documentos básicos de orientação conceitual gerados nas conferências promovidas pela UNESCO (Belgrado, Tbilisi, Moscou e outras), acrescentando uma apreciação crítica  e, incorporar as mais recentes orientações (Tessalônica).    A série de documentos brasileiros foi enriquecida, com a Carta de Brasília sobre Educação Ambiental e a Política Nacional de Educação Ambiental.

A cronografia e o histórico da EA foram atualizados e ampliados, bem como a parte de legislação ambiental, inclusive com a Lei dos Crimes Ambientais.  Foram acrescentados alguns instrumentos analíticos (a pegada ecológica), documentos importantes (como o Alerta dos Cientistas à Comunidade) e estudos de caso. Finalmente, processaram-se correções, quanto a questão do gênero.

A despeito de todo o contexto assustador, acredito nas possibilidades da espécie humana.  Temos os genes da sobrevivência.  Temos que continuar nossa escalada evolucionária.  Transformar os problemas em desafios e encará-los. E a educação é um dos caminhos mais iluminados, com qualquer um dos tantos rótulos que receba.

áNinguém é autor.  Somos apenas contribuidores, pois escrevemos iluminados por um legado de idéias escritas por tantos outros contribuidores.

Muito obrigado e que Deus ilumine o trabalho de todos.

Genebaldo Freire Dias

Comentário (original)

Quando redigíamos os originais desse livro, em 1989, jamais poderíamos imaginar a trajetória de edições sucessivas que iria acontecer. Originariamente elaboramos o livro para ser publicado pelo MEC e IBAMA (então recentemente criado). Oferecemos os direitos autorais gratuitamente. O objetivo era fazer chegar essas informações, até então engavetadas, a um número maior de pessoas possível. Jamais tivemos uma resposta.

Em uma dessas tardes quentes de Brasília, entra em nossa sala a senhora Walda Antunes e pergunta quem tem algo sobre Educação Ambiental para publicar! Daí já são 9 edições. Temos uma profunda gratidão por aquela senhora de cabelos prateados.

Esse livro já passou por três modificações – revisão, ampliação e atualização. A maior parte do seu conteúdo foi fruto de garimpagem desde 1980. Naquela época a EA era amordaçada no Brasil.

Segundo os editores, essa obra é a mais solicitada dentre as de nossa autoria, seguida do livro “Pegada Ecológica e Sustentabilidade Humana”.

Cada uma das suas 550 páginas tem uma história de dificuldades (a primeira versão foi escrita à lápis e estávamos presos à uma cama), porém, também uma história agregada de satisfação de missão cumprida.

RESENHA

Dias, Genebaldo Freire. Environmental Education: principles and practices. 6 th. Revised and expanded edition. Sao Paulo: Gaia, 2000 (9 th, 2007)

Genebaldo Freire Dias is PhD in ecology from the University of Brasilia. It has worked and produced, so very useful in environmental issues, especially in the field of education, signing up as a national reference, backed by his extensive resume. Currently, he is a professor and researcher at the Catholic University of Brasilia where he is developing a major project, which is reported in this book as a relevant institutional experience. Held various positions in institutions of direction related to this issue, both in the local and national. He is also advisor of the World Health Organization (WHO) United Nations (UN) and the National Environmental Fund (FNMA), and contribute to the evolution of the debate on environmental issues under various national and international bodies.

Initially, the author presents a critical review of the history of Environmental Education (EE) in the world and in the country, from registration and evaluation of the results of significant events, adding comments and relevant analyses. In this historical narrative emphasizes the conference in Tbilisi in 1977, which stood out as a crucial milestone in establishing the conceptual basis of the EE, identified as activity essential for building new models and proposals for development. Under the ideology of EA would be developed a new educational process in scale and global perspective.

In their discussions on environmental issues and draft EE, the author believes that the pressures of the international financial system have led other nations to situations of unsustainability in their development processes.

Even acknowledging progress in the National Policy on Environmental Education (Law 9795/99) and improvement in the indices of quality of life, presents critical to the development models that have been adopted by Brazil and the industrialised countries, highlighting the negative implications for future generations. In that context, discusses the implications of the globalization process that has expanded the number of individuals and populations that are to adopt the same patterns of consumption, putting enormous strain on finite resources, some scarce, without evaluating the capacity of natural regeneration. The result is a general state of frustration and violence, typical of “species under ecosystemic stress: all are against all” Design is a culture of “to have” instead of “to be”, leading to depletion of natural resources – “the largest part of human society lives as if it were the last generation “, not any possibility of sustainable development.

Humanity is facing a big challenge: “the loss of environmental balance, accompanied by erosion of cultural, social and economic injustice and violence, as a corollary of its lack of perception of ethical and spiritual impoverishment, also the fruit of a type of education that

” trained ” people to be consuming useful, egocentric and ignore the ecological consequences of their acts”

Few countries comply with international agreements and EE has not yet managed to the internalization of social values capable of halting environmental degradation that the world is experiencing with great speed.

Despite the amazing scientific and technological development achieved in the last century in all fields of knowledge, the ability to forecast about the risks and environmental consequences still appears to be very limited.

The author also shows that the EA presents many contradictions and conflicts of interest, besides being a new field of knowledge, which requires a systemic approach still poorly understood or practised in the academic environment, nor by governments, politicians, authorities.

From ample and clear reasons, indicates the need for developing new methodological tools to contribute to overcoming the limitations of the reductionist approaches and methods dominant in academia. However, there is still much to advance the construction of a new paradigm that can generate reliable results able to base decisions and produce changes.

While acknowledging that many steps have already been taken, proposes efforts, focusing on environmental education and training of groups of interdisciplinary research, aimed at understanding and internalization of a new ethic of development, capable of meeting the challenge of sustainability of human life on the planet.

The author contributes to the understanding of environmental issues based on the theory of complexity, the principle of uncertainty (indeterminismo) and the systemic thinking, discussing the relationship of interdependence of the process of sustainable development, considering the population growth, size and economic limitations of natural resources in addressing the social issues of urban ecosystems. Moreover, deals with human actions relating them to global environmental change and discusses the basics of urban EA.

A report on the experience of EE and co-management held in Brasilia National Park is presented and discussed, containing not only complaints but also, importantly, pointing possibilities for solution of environmental issues, showing the importance of the internalization of values the community, through education. Another case study presented is the Environmental Education Program at the Catholic University of Brasilia since 1999, with goals from incorporated the environmental dimension in all activities of the University; spread practices of sustainable development, construction an institutional agenda-21; deployment of an internal environmental management system. These samples are copies of what can be done.

It is a work of reference, a classic, for the present time, depth and systematization of information presented. Developed on the basis of relevant facts and historical landmarks, is aimed at students and teachers of all grades, and to all citizens affected by environmental problems, bringing lucid proposals for development of a process of sustainable development and improving the quality of life for all.

Ivan Rocha Neto
Doctor of the University of Electronics Canterburg – England
Pro-Rector of Post-Graduate Studies and Research at the Catholic University of Brasilia

Magazine Universa, Brasilia, V.9, n.2, p.351 – 353, June 2001

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